TAIJIQUAN - Um Caminho para a Auto-Realização

19/01/2013 18:36

 


Quando procuramos preencher lacunas em nossa vida, superar frustrações, percorremos vários caminhos. E, por motivos diferentes encontramos o caminho do Taijiquan. O Budismo ensina que nosso sofrimento vem do desejo e do medo. Experiências frustrantes do passado podem projetar medo do futuro, ou desejos de superação. Experiências gratificantes desenvolvem esperanças e desejos para este futuro, medo de mudanças. O problema é como lidar com o presente, tendo em conta a impermanência das coisas. O único momento de que dispomos na realidade é o presente. Viver o momento presente sem receios, sem ansiedades, em tranqüila liberdade e paz é uma possibilidade quando treinamos a respiração e os movimentos da natureza que nos reconectam com o TAO. Um treino do Aqui e do Agora. Já não podemos modificar o passado, e o futuro não o conhecemos. Por isso, a concentração em cada movimento presente. Este treino de mente e corpo unidos é o trabalho do Taijiquan. Vista de fora, a prática do Taiji pode parecer uma dança ondulante ou um conjunto de exercícios físicos. O Taiji no entanto, é uma poderosíssima arte marcial interna, forma importante na preservação e fortalecimento da saúde, e uma meditação em movimento. Sua prática combate o medo e a ansiedade, fortalece o corpo e o espírito. Dessa forma, os movimentos se tornam mais precisos, leves e firmes e o praticante é capaz de se defender se necessário, em harmonia consigo mesmo e com seu ambiente. O desenvolvimento da segurança interna permite uma tranqüilidade que não receia ataques de quaisquer tipos. O controle da respiração, o desenvolvimento da percepção, o aprimoramento da intuição levam `a evitação do perigo antes que ele se manifeste efetivamente. O praticante de Taiji se beneficia sem mesmo o desejar porque a prática constitui unicidade entre corpo e espírito, e o treino de um desenvolve o outro a seu tempo. É evidente contudo, que há diferença entre praticar conscientemente os movimentos ( estar presente nos movimentos e na respiração) e repeti-los mecanicamente. A própria repetição porém, pode conduzir ao "insight" (percepção súbita), ou à consciência lenta para o praticante pouco atento.

 Estar inteiro em cada ação, evita a ansiedade e o medo ou mesmo outras emoções que podem ser perturbadoras. Assim, a prática do Aqui e do Agora se expande a outros momentos da vida e cada um deles se torna rico em sua peculiaridade: o sabor dos alimentos, a variedade dos cheiros, a multiplicidade dos sons, a textura de cada toque, a contemplação visual, etc. A vida se apresenta na riqueza de sua expressão máxima. Cada dia é novo e surpreendente.

Taiji é uma prática individual realizada em grupo. A aprendizagem é um processo que depende de cada um em sua singularidade. De maneira geral, o progresso começa a se manifestar através de bem estar físico e espiritual, maior resistência à doenças, ou recuperação mais rápida, melhor disposição ao acordar e relaxamento ao deitar.

Taijiquan não é um treino alienante onde apenas procuramos relaxar para esquecermos momentaneamente dos problemas cotidianos. Quando saímos de nosso treino temos que continuar com as dificuldades do dia a dia. Ocorre porém, uma relação diferente com o cotidiano. A prática leva o microcosmo que somos a repetir o macrocosmo de que participamos. O fato de nos sentirmos parte do Todo, do Tao, de sermos Um com Ele aprimora nossa consciência pessoal e social. Se por ex., estamos dirigindo em meio a um trânsito agitado, precisamos fluir com ele ao invés de nos irritarmos com a situação, que não conseguimos modificar, ou nos paralisarmos de medo. O Taiji ensina a fluir com as situações e não a fugir delas. O destino de cada um é o destino de todos. A responsabilidade social se estende a partir da consciência pessoal na prática de cada movimento natural e cósmico.

O trabalho com as duas energias: Yin e Yang possibilita tanto a serenidade quanto a rapidez e precisão necessárias às ações diárias. Aprendemos que todas as situações são lidáveis, que nossas emoções não pertencem a categorias boas ou más, o que nos envolveria em culpa ou ansiedade por superação. Aprendemos que a condição humana sempre apresentará momentos difíceis ou fáceis, e que a transformação dos primeiros nos últimos depende de coisas muito simples que conseguimos perceber quando não estamos tomados por estados que não compreendemos. E que todos estes momentos, sejam eles bons ou maus são passageiros. Que não valem muito nem os medos nem os apegos. O quem sabe, tudo vale exatamente por isso!

Começamos a perceber uma dimensão maior das coisas e não parte delas como estamos acostumados a ver ou sentir. O treino aguça além dos sentidos a percepção, a noção de realidade mais ampla.

Em si mesmo, o praticante vai perceber como caminha, como movimenta seus braços, como está a flexibilidade das articulações a sua postura, o movimento dos quadris, e expressão de seus dedos, etc.

O movimento circular no qual se envolve no Taiji é importante para o praticante. É também sua postura no mundo social: firmeza e fluidez. Assim, ele deixa que a força que quer destruí-lo caia sobre si mesma. A idéia é que não há necessidade de competir acirradamente por tantos motivos egóicos: auto-imagem, títulos, posições, dinheiro, etc. É escolher uma forma de vida em que a firmeza interna adquirida pelo treino sistemático de corpo e mente, realiza com tranqüilidade o estar no mundo "Contrarrestar a mobilidade com a imobilidade" (Li Shixin), é um dos princípios do Taijiquan.

Os grandes mestres conhecidos por sua capacidade de luta raramente lutavam. Não precisavam. Não eram atacados.

Na relação com o social, o praticante aprende a importância de cada um, porque todos temos um destino comum. Daí a noção de respeito e humildade.

Ambos são expressões de nossa relação com o Outro e conosco mesmos. Ampliada nossa consciência percebemos que cada movimento nosso é parte do movimento do universo.

A competitividade intensa a que estamos submetidos e da qual participamos, nos deixa com sentimentos de fragmentação e nos leva ao desconhecimento de nossas reais capacidades, perturbando nossa auto-estima.

Perdemos assim contato com este Todo do qual somos parte. O treino do Taiji vem de encontro a esta dificuldade, e por isso trata-se de uma re- conexão, re-aprendizagem. O treino elabora este contato através de seus movimentos suaves, firmes, a respiração abdominal profunda, a consciência do que se faz em cada momento. O processo no Taiji é elaborar nosso contato com o Tao. Os exercícios que os antigos mestres aprenderam com a natureza, com os animais estabelecem essa união com o Universo que somos todos nós, e que temos todos afinal, o mesmo destino.


Assim reza o Sutra da Suprema Sabedoria:

"Gyate, Gyate, Hara Gyatei

Hara So Gyate, Boji So Waka."

"Vamos, Vamos Juntos

Vamos Juntos, Mais Além, De Mais Além,

Até A Realização Última,

Que Assim Seja Assim Será!"

 

FONTE: Teresa Adada Sell - Fpolis. 1994/1999