Atividade Física e Qualidade de Vida

01/12/2023 10:00

Em cada época da humanidade houve uma idade privilegiada. É o que relata o autor Philippe Ariès em História Social da Criança e da Família. No século XVIII foi a Juventude, no Sec. XIX a Infância e no sec. XX a Adolescência.

Cada época tinha enfoque diferente, porque estudos, pesquisas modificavam a percepção sobre fases anteriores. A importância da criança aparece quando os conhecimentos sobre condições de higiene, de puericultura, de alimentação começaram a acontecer. Antes morriam muitas crianças na 1ª infância, de sorte que as famílias não se apegavam muito aos filhos. Enquanto isso a juventude tinha uma vida intensa. Quando a infância começa a ser compreendida ela passa a ser o centro da vida da família. Que também se estrutura aos poucos como família de pai, mãe e filhos. Continuando a compreender melhor as idades, a adolescência- uma continuação, mas diferente da infância ganha privilégios de estudos e se torna rainha no século passado, e tudo começa a girar em torno destes jovens. E ainda estão detendo importância. Mas qual é a idade privilegiada de nossa época?  Acredito que estamos numa fase de contemplar a idade madura. Que seria chamada de velhice em outras épocas. Não faz muito tempo que 50 anos era considerado idoso. Ariès relata a historinha de uma jovem que se recusou casar com um “ancião de 50 anos que não tinha um dente sequer.” Veja-se a descrição de velhice!

Atualmente aumenta o número de pessoas com idade avançada. Mas a velhice tem sido banida especialmente com relação à características que identificam o tempo de vida, na aparência física. Não temos mais nada em comum com o idoso do passado. Que não é tão distante. Ainda nos livros infantis há imagens de avós encurvados e esta não é mais nossa realidade em menos de 20 anos. Já incomoda nos estacionamentos reservados aos idosos imagens de bengala e “coquinhos.” Então agora começam a modificar: “Estacionamento para mais de 60.”.

Ainda que em número cada vez mais crescente de pessoas com mais idade, o ideal continua sendo o da juventude. Uma juventude que é procurada, e exaltada. Perseguimos incessantemente ocultar características da idade. A qualquer preço, e de fato há um bom preço a pagar para se manter jovem.

Historicamente ser velho já foi considerado ser sábio, respeitável, e também já foi ridicularizado por estar fora de seu tempo. Que tempo? É muitíssimo comum encontrar pessoas dizendo: “no meu tempo...” quando mostram saudosismo por sua juventude. O que projetamos na juventude são suas características de saúde e beleza. Programas de TV, redes sociais da internet, revistas estão aí para mostrar o fim da velhice. Especialmente para mulheres. A busca de um corpo esbelto faz sucesso nas academias, dietas e cirurgias plásticas. O Brasil é campeão em cirurgia plástica. Lipoaspirações, “turbinamentos”, preenchimentos, muitas novidades no campo do rejuvenescimento.

 A brasileira gasta fortunas com cremes e cosméticos.

Nós conquistamos mais tempo de vida e agora buscamos ocultá-lo! Que engraçados que somos! Porque encaramos o tempo como uma ameaça e não como uma promessa de crescimento? A escritora Lia Luft se pergunta quem nos ensinou a pensar assim? Porque aceitamos? Idealizamos uma época em que não estamos mais, mas temos que ser sinceros que não houve uma fase da vida em que não enfrentamos problemas. Fosse na infância, na adolescência, na maturidade. Ora eram dificuldades financeiras na família de onde viemos, ora para estudar, passar num vestibular, para arranjar emprego, passar no concurso, ter um namorado, um marido, ter filhos, resolver problemas com eles, ter casa, etc, sempre estivemos batalhando porque assim é a vida por aqui. E as dificuldades de cada época fizeram a pessoa que somos hoje. Temos a história em somos o personagem central.

E agora estamos na fase, de aposentadoria à vista. Muitas vezes sonhada, mas também temida porque coincide com a nossa maturidade (digo em idade...) Onde outras avaliações da vida estamos fazendo. Uma mudança de fase novamente. No auge da vida! O que é muito benfazejo. Pois não estamos abolindo o envelhecimento?

Posto que buscamos ser jovens externamente nem sempre agimos assim internamente. As características da idade não precisam serem manipuladas pois que de fato podemos mudar nosso ponto de vista sobre envelhecer, sobre nós mesmos.

A idade madura não precisa ser temida porque o processo de autoconhecimento é um processo contínuo. Não há um momento em que chegamos ao topo e vamos descer. Normalmente é o que se pensa: infância, adolescência subindo, juventude no topo e depois a descida com maturidade e velhice. Mas, não é o que os neurocientistas têm falado a respeito. O médico indiano Deepak Chopra cita um ditado antigo: “Você é tão velho quanto pensa que é.”.

A visão deste cientista dentro da física quântica é que:

“O envelhecimento não passa de um conjunto de transformações mal dirigidas, processos que deveriam permanecer estáveis, equilibrados auto- renovadores, mas que se desviam do curso adequado. Isto aparece como uma mudança física e no entanto o que realmente aconteceu foi que sua consciência- a da sua mente ou a de suas células, não importa- desviou-se primeiro. Ao tornar-se consciente do desvio ocorrido, você pode trazer a bioquímica do seu corpo para a trilha certa novamente.” (Chopra,Pg 37)

Especialmente porque nós nos colocamos um padrão de pensamento de que deve ser, nascimento, envelhecimento, doença e morte.

E Chopra explica: “Se você puder se libertar dessas projeções, tentando nem reviver o passado, nem controlar o futuro, abre-se o espaço para uma existência completamente nova- a experiência do corpo sem idade, e da mente sem fronteiras.” (Idem, 45).

Mesmo as coisas mudando em nossa vida, há um processo contínuo em que nos reconhecemos. E ao mesmo tempo podemos nos reinventar enquanto seres humano inteligentes. Mudar não significa perder mas se completar cada vez mais.

Na concepção da filosofia e medicina chinesas envelhecemos e adoecemos porque nos afastamos do QI Primordial com que nascemos. A menos que tenhamos uma deficiência congênita nascemos perfeitos com o máximo de energia que vamos consumindo ao longo da vida sem repor adequadamente. Nossos hábitos desfavorecem nossa saúde. Comer mal, beber, respirar deficitariamente, fumar, não amar, desgastam esta energia.

Fortalecemos esta energia este Qi quando comemos alimentos saudáveis, obedecendo às necessidades do corpo, e cada um se sabe o que escolher. Alimentamos este Qi bebendo água, somos a maior parte do corpo água, quando respiramos bem, usufruímos da natureza e quando nos exercitamos. Quando procuramos eliminar emoções negativas, pois estas alteram toda química e metabolismo do corpo. Quando abandonamos raivas, mágoas, medos que poluem a mente e enfraquecem o espírito. Boa digestão, boa eliminação, sono regular, sexualidade, amor, são coisas que ativam a saúde e a beleza da vida.

Tudo de que necessitamos para manter equilíbrio nós podemos saber e escolher se tivermos Consciência de nós mesmos.

Somos uma unidade de Corpo, Mente e Espírito. Alimentando um fortalecemos o outro. Não há separação entre estes 3 aspectos de nossa vida. Nosso corpo se saudável, gera energia que nutre o espírito. Pensamentos, emoções influenciam nossa saúde corporal. O corpo saudável por sua vez, gera emoções positivas. Quem se exercita dificilmente entra em depressão. Fortalecendo o corpo nos tornamos conscientes de nós mesmos, clareando a mente elevando o espírito.

Os exercícios de Qi Gong não se preocupam em fortalecer os músculos apenas. Eles nos ensinam a ter controle sobre nosso corpo e nossas emoções. Relaxando ficaremos surpresos como podemos aprender sobre nós mesmos, descobrir sobre nossas sensações que desconhecíamos, e a beleza de nossa alma. Mesmo sem desejar ser eternamente jovens, podemos ser belos, termos transparência e deixar um brilho ao nosso redor. E melhorar o mundo que nos cerca através do prazer de gerar gentilezas, de ser agradável, de ter prazer em estarmos vivos.

Incorpore exercícios de respiração à sua vida como tomar banho, escovar os dentes. Sinta o prazer em sentir seu corpo. Conheça seu corpo. Que alimentos permitem seus intestinos funcionarem bem, o que o deixam sereno, o que o transtorna e perceba estes momentos.

Como pretende usar esta vida que você tem até seu último dia? Está contente ou gostaria de fazer algumas mudanças?

Tenha amor por você. Perceba, você é único! Sua experiência de vida é intransferível!

E estamos todos juntos até a realização última!

Teresa Adada Sell

04/12/2015