ZEN E A CERIMÔNIA DO CHÁ

07/09/2015 16:19

Notas:

 

IChigo Ichie- significa um encontro, um momento- que não vai  se repetir jamais!

Com estas palavras já de conotação Zen, convido-os a adentrarem  ao Chanoyu-  a Cerimônia do Chá.

 Rikyu o grande mestre  tornou a cerimônia um Do –o Chado- e eu quero lhes repetir suas  palavras hoje a vcs. Agora

 “Que o Coração que busca seja seu mestre!”

Sejam todos bem-vindos!

 

A relação da filosofia Zen com a cerimônia do Chá começa desde que  o monge zen Eisai  levou as sementes do chá verde da China para o Japão.

Shuko o pai da cerimônia  estudou Zen sob a orientação do monge Ikkyu do templo Daitoku-ji. A estreita  afinidade entre ensinamentos zen e a cerimônia ajudaram a moldar a forma e os rituais do chanoyu e a simplicidade e pureza inerente na religião  influenciaram  a forma que a cerimônia foi adquirindo. De fato a mesma harmonia da mente conseguida ao se entrar num templo zen  pode ser encontrada na serena atmosfera que envolve a sala de chá

Para se  compreender  a cerimônia seria necessário   se conhecesse um Chashitsu tradicional, e o que significa uma prática que contem elementos externos para se chegar ao conhecimento interno, ao auto- conhecimento.

Desde o caminho sobre pedras, deixando para trás a mundaneidade, a purificação das mãos e da boca, o calçar branco, o abaixar-se para adentrar  no recinto são princípios básicos para quem entra no mundo do chá. A atmosfera da sala, o barulho da água fervendo no chagamá, a escolha dos objetos, o cuidado com o preparo do chá, como oferecer junto do chá  o melhor de si mesmo são pontos importantes para um aprendiz do Chado.

 

Nos mosteiros zen o trabalho é fundamental. Atividades manuais evitam que a mente se disperse em excesso de meditação.Vemos aqui uma ligação importante com a cerimônia do chá em que cada ato, cada movimento exige a conexão profunda da pessoa consigo mesma, a respiração, a postura do corpo, a concentração da mente.

Sem o ascetismo exacerbado da  disciplina hindu, o budismo procura o equilíbrio entre a disciplina e o fruir do que se recebe da natureza.  A simplicidade evita a ganância.  O zen combate  a aquisição desenfreada que tem levado o mundo a um estado de exploração  e miséria.  Qualidades importantes nos templos  Zen são úteis em todas as épocas: frugalidade, não desperdiçar  os bens da natureza, simplificação da vida, controle dos desejos, não desperdício do tempo, auto-independência.

 

O zen fala de simplicidade deixando de lado as representações lógicas, verbais, preconcebidas ou deformadas. Pela simplicidade vem a liberdade, a vitalidade, a originalidade.

E por ser livre também é disciplinado, e não libertino. Na relação entre a cerimônia e o zen, a aprendizagem ritual, concentra a pessoa no que esta fazendo e a torna livre internamente. A respiração acompanha os movimentos, liberando a pessoa de tensões e concentrando-a no próprio ato. Esta atitude se  estende aos seus hábitos. A pessoa começa a perceber, a contemplar o que antes lhe era estranho ou desconhecido. As sutilezas das coisas ficam expostas. Há um enriquecimento de intuições, emoções, a pessoa

 

Chegar ao satori-  a aquisição de um novo ponto de vista, olhando para a essência das coisas, longe do dualismo, da lógica verbal, da compreensão  intelectual. Não se pode adquirir esta experiência através de conhecimentos formais, nem através   de ensinamentos puramente intelectuais. O que  pode ser dado são  pistas, sugestões (como os koans), mas cada um agarra e segura  com  experiência pessoal.

Modéstia,  respeito e  reverência fazem parte das atitudes no recinto do chá. E como no Zen, o que passou, passou, não é possível voltar atrás e refazer a experiência. Os movimentos da cerimônia,  se  se tornarem atrapalhados vão prosseguir sem serem refeitos. Ichigo-Ichie- um encontro- uma vida, uma vez apenas, sem repetição. Sem pensamentos de punição, nem de elevação. Simples, corretos, despojados. Não há necessidade de representar nada. A igualdade de condições são fundamentais no recinto do chá, ainda que possa ter um convidado especial. Este contudo não é reverenciado  por seus méritos ou posses. Qualquer pessoa pode ser o convidado principal. O despojamento  de ornamentos durante a cerimônia, assim como antigamente os samurais depositavam suas espadas  antes de entrarem no Chashitsu, iguala os participantes  em sua importância.

O amor pela cerimônia de monges levou-os a desenvolverem senso estético, colecionando objetos bonitos como utensílios que depois se tornaram valiosos. Tanto que alguns abades desaconselhavam aos monges a cerimônia por acharem-na presa a futilidades estéticas.

Os conceito de Wabi e Sabi  vão  contra esta pretensa futilidade pois que o requinte não  está  no preço de um objeto mas na sua simplicidade, sua história, sua idade. A  dedicação na confecção de um único dogo de chá é mais importante do que a produção de lindas peças em série. Esta estética wabi/ sabi está intrinsecamente ligada à cerimônia do chá.

Conceitos como wabi/sabi, são de difícil explicação em palavras da mesma forma que explicar  o que é Zen e a experiência do chá. São vivências intransferíveis. Em sua totalidade Zen é uma experiência pessoal. Evita a dissociação, revela-se na aparente vida comum. Retira o místico do misticismo. “Abre os olhos do homem para o grande mistério que diariamente é representado. Alarga o coração para que ele abranja a eternidade do tempo e o infinito do espaço  em cada palpitação e faz-nos viver no mundo como se estivéssemos andando no jardim do Éden. Todas essas conquistas espirituais são obtidas sem necessidade de qualquer doutrina, simplesmente  afirmando, da maneira mais direta a verdade que jaz em nosso ser interno(D.T Suzuki)

 

Para Sen O Tanaka, embora haja relações entre a ética  do zen e o chanoyu eles diferem da seguinte maneira: enquanto o zen apela pela iluminação individual  através da meditação e isolamento, chanoyu é antes de tudo a arte da comunicação entre as pessoas compreendendo o espírito do zen na sinceridade e pureza da mente.

Os princípios do Chá expressam valores espirituais mas sua manifestação é a prática entre as pessoas em suas relações.